quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Porque só quem sentiu a dor de uma tragédia sabe o quanto dói. Porque aquela famosa frase “imagino a dor que você está sentindo” só se aplica a quem sentiu essa dor. Só.
Não me venha dizer que qualquer pessoa tem a dimensão da perda. Não tem.
Eu me achava uma pessoa normal . Achava que sabia o que significava a dor que a vida poderia trazer. Que nada...
Só depois que meu padrasto morreu vítima de um assalto é que entendi. Entendi que segurar a onda de uma tragédia não é pra qualquer um não.
Muitas pessoas se afastaram. Pessoas que eu nunca imaginei que fossem fazer isso comigo. Um dia, lendo uma entrevista de uma pesquisadora super conceituada (acho que antropóloga) nas páginas amarelas da Veja, um fato me chamou a atenção. Grosso modo, ela disse que a maioria das pessoas se afasta da quem perdeu alguém por tragédias. Porque não sabem lidar, porque não querem encarar o sofrimento.
E eu lembrei da minha amiga/irmã que me disse que eu estava na merda, que não agüentava ficar perto de mim daquele jeito e que ficar feliz perto de mim era constrangedor. Só tinha dois meses que ele tinha morrido. Como superar uma morte de quem a gente ama em apenas dois meses? Se é que um dia alguém supera...
Acho que eu vou precisar de dez vidas pra ter algum sentimento por essa pessoa além de mágoa.
Enfim...
Tudo isso só pra dizer que as tragédias me atingem. Reconheço o olhar perdido de quem acaba de perder alguém. O medo do amanhã. O desespero de não saber que caminho seguir. A fragilidade na sua essência.
Uma colega do meu curso de arte tem uma sobrinha. Ela tem 37 anos e há muito tenta engravidar. Fez inseminação e na primeira vez conseguiu. Trigêmios.
Logo no começo perdeu um bebê. Seguiu adiante. Com quatro meses, o útero começou a abrir (não sei se é esse o termo) e ela teve que ficar de cama. Teve que ficar em repouso absoluto. Não podia levantar nem para ir ao banheiro, nem pra tomar banho.
Ontem, minha colega não foi para o curso. Mandou o recado que a sobrinha perdeu os bebês e está na UTI. Tem 40% de chances de sobreviver. Como assim?
Isso me dói. Isso traz à tona as feridas que estão dentro de mim. Imagino o marido (que só faz chorar), a família, os amigos.
Talvez por minha vontade de ser mãe; talvez por tudo que já vivi. Essa história não sai da minha cabeça......

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